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Brasil

Relatório que denuncia violações cometidas pela Vale é entregue em ato na sede da empresa

Atingidos pela Vale 116 1024x575Nesta sexta-feira, 17, movimentos sociais e entidades que integram a Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale realizaram ato simbólico na sede da empresa, no centro do Rio de Janeiro.  Enquanto a Vale realizava mais uma assembleia de sócios na Barra da Tijuca, os manifestantes denunciaram as violações de direitos e os crimes cometidos pela empresa como submeter trabalhadores à condições de trabalho análogas ao escravo, casos de espionagem contra funcionários e movimentos sociais, ameaça às reservas de água, poluição e adoecimento das populações próximas às usinas, dentre outras. Além disso, os movimentos entregaram o Relatório de Insustentabilidade da Vale 2015 para a direção da mineradora. O documento que reúne ais de 30 casos de violações cometidas em  três continentes, foi lançado na noite de ontem (16) na sede do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro e também foi entregue na assembleia de acionistas por integrantes da articulação que acompanham os casos denunciados.

“A empresa lança todos os anos o Relatório de Sustentabilidade e tenta vender a ideia do quanto ela é verde, responsável, respeitosa e a gente vem aqui provar que isso é mentira. A Vale pressiona o Estado para não reconhecer comunidades quilombolas, polui, adoece, expulsa e mata as populações. O relatório reúne esses casos”, explica Maíra Mansur da Articulação dos Atingidos pela Vale.

Durante o lançamento, lideranças indígenas, quilombolas, pescadores, advogados e moradores das regiões atingidas foram homenageados.  Sandra Vita, moradora do município de Catas Altas (MG) falou do adoecimento crescente da população da sua cidade acometida pelo câncer, pelas doenças respiratórias e pelo estresse acarretado pelas pressões oriundas da presença da empresa na região. Além disso, a integrante da Associação Comunitária Nascentes e Afluentes da Serra do Caraça denunciou a ameaça que a mineradora representa para o aquífero que abastece a região. “No momento em que vivemos uma crise hídrica, a Vale está avançando sobre nossas reservas e poluindo a água que ainda não está nas mãos deles. Eles poluem a água, ela volta pro lençol freático e polui nossa reserva”, conta. Segundo dados do relatório, três minerodutos que ligam Mariana (MG) a Anchieta (ES) gastam 4.400m³ por hora, o que seria suficiente para abastecer uma cidade de 586 mil pessoas durante um mês.

Também homenageado no lançamento, o pescador Jaci do Nascimento, morador de Santa Cruz, zona oeste do Rio, se disse emocionado em ver que várias comunidades de diferentes estados e países enfrentam problemas parecidos com os acometem os moradores da Reta João XXIII desde a implantação da Tyssen Krupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA), da qual a Vale é acionista. “Eu acredito que a minha dor é a dor de muitos que estão aqui. A gente tinha um ar puro, fresco, com cheiro de maresia, agora é pó prateado, poeira. Eu sou pescador e não consigo mais o peixe pra sobreviver. Tudo por causa daquela empresa que foi pra nossa localidade, perdi a conta de quantos vizinhos morreram. A TKCSA é um peixe tubarão que a gente não conseguiu fisgar”, desabafa.

Pedro Poty do do povo gavião Akrãtikatejê, no Pará, denunciou a tentativa da empresa em ludibriar os povos indígenas. “De novo o homem branco quer nos enganar, nos explorar, chegam lá prometendo melhorias e tentam passar uma imagem boa mas a gente sabe o que tá acontecendo. Eles mataram nossos Igarapés, estão acabando com nossa cultura, as árvores não dão mais frutos, o barulho do trem espanta os bichos e acaba com nossa paz. Nossa luta é que nosso parentes estejam conscientes disso também”, ressaltou.

Após as falas e homenagens foi exibido o documentário “O buraco do rato”. Produzido pela equipe de comunicação do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, o filme tem como tema as denúncias feitas por André Almeida, ex-funcionário da Vale, sobre o esquema fraudulento de espionagem de funcionários, terceirizados, jornalistas, governos e movimentos sociais. O caso já levou a uma audiência pública no Congresso, mas a empresa, até agora, não foi responsabilizada.

Gabirel Strautman, economista do Pacs e um dos organizadores do relatório, declarou que o objetivo da publicação é dar visibilidade a esses casos.  “A gente mostra aqui o que a empresa oculta em seu relatório de sustentabilidade. Fazemos um aparentemente igual para que circule, inclusive dentro da empresa e para que sirva de instrumento pros movimentos resistirem”, declarou.

Leia o Relatório de Insustentabilidade da Vale online 

Baxe a versão em pdf: Relatório_pdf